quarta-feira, julho 19, 2006

O Celular e o Cinema

Era uma noite fria e estávamos sendo chamuscados pelos reflexos do luminoso de néon na fila de entrada do cinema.
Enquanto eu me perdia tentando contar os ciclos de acender e apagar as luzes vermelhas e amarelas, a fila andava lentamente na direção do salão de espera.
Que bom eu ter ingresso antecipado.
Mariana Hugo e Nadja conversavam fazendo previsões sobre o quanto o filme seria dramático, engraçado ou luxuoso.
Já dentro do salão, uma mulher grita que o celular tinha sumido.
Alvoroço.
Um homem engravatado começou a fazer perguntas a todos.
Com ar de aborrecido ele tentava saber o paradeiro do celular da madame.
Daí, o meu celular tocou.
Descobri que tinha esquecido ligado.
Antes de eu atender, o gerente engravatado do cinema e a dona do celular perdido se aproximaram de mim para ver o meu celular.
A mulher me perguntou:
- Por acaso tu viste o meu celular? É um Siemens S55.
O meu também era um Siemens S55.
Eu respondi que não e peguei no meu Siemens para atender.
Era do serviço de recados pedindo pra ligar para a empresa onde trabalho.
Lá vem encrenca, pensei.
Ao desligar, a mulher - Dona Dulce - quase convencendo o gerente do cinema que aquele era o telefone dela, me disse se podia ver o aparelho.
- O quê? Este é meu. Ou será que só existe um?
O gerente aparentando gentileza e cansaço da mulher me pediu:
- Posso olhar o aparelho?
- Até pode, mas esse é meu e duvido que tenha algum outro com o papel de parede de uma BMW M3 amarela.
A mulher disse:
- É da mesma cor que o meu.
E o gerente falou enquanto que fila já chegava ao fim:
- Não tem papel de parede de BMW.
Tomei da mão dele e... pude ver o que meu filho fazia brincando com o celular em casa – tirou o meu papel de parede e botou um pokemon.
Já quase saindo do trilho eu disse para mulher:
- Senhora, qual é a sua operadora ou diga um número da sua agenda, assim comparamos e encerramos isso porque não vou perder o filme, certo?
Esclarecido que não era o dela, entramos finalmente na sala. Quando acabava o trailer.
Estava escuro e o balde de pipocas da Nadja caiu no colo de alguém.
Desculpas pra lá. Não tem problema pra cá...
Comecei a pensar que não ir à estréia teria sido melhor.
Apesar do escuro, conseguimos enxergar lugar para sentarmos.
Tudo parecia ter melhorado.
Numa das cenas de ação, Van Helsing lutando contra vampiros, todos da frente gritaram e se levantaram.
Um gato passou correndo, sabe Deus atrás de que, pelas pernas das pessoas sentadas.
Acho que pensaram que era algum vampiro rastejante (hahaha).
Mais gritos do outro lado.
Ouviram-se latidos.
Pararam o projetor e acenderam as luzes.
Gente se levantando e indo pro fundo do cinema.
O tal gerente e mais uns quatro ou cinco auxiliares com vassouras nas mãos corriam lá pra frente.
Foi aí que pude ver.
Um gato correndo em fuga de um cão que parecia um labrador.
Eu já tinha visto de tudo num cinema, mas aquilo era espantoso.
Levou uns 20 minutos até que conseguiram expulsar os bichos da sala muita gente já estava indo embora esbravejando querendo o dinheiro de volta.
Resolvemos ficar e tentar assistir o filme.
Mas o técnico da sala de projeção, ocupado em ver o que acontecia lá embaixo, esqueceu alguma coisa que não podia.
Deu pane no projetor e o segundo projetor estava com a segunda metade do filme.
Perdemos quase toda primeira metade.
O serviço de alto-falante informou que o cinema ia devolver os ingressos para o dia seguinte.
Se arrependimento matasse, eu já estaria com missa de sétimo dia.
Achamos melhor ir embora.
Chegando à saída, surpresaaa... chovia muito.
De onde teria vindo aquela chuva não prevista?
Vamos assim mesmo senão as coisas pioram” disse eu pros amigos.
Afinal, o meu celular foi confundido com algum perdido, o Van Helsing não conseguiu matar todos os vampiros porque um cão caçava um gato e o projetor pifou.
Preparamos pra começar a correr na chuva em direção a uma pizzaria.
Um funcionário do cinema correu na minha direção falando alto:
- O senhor deixou cair o celular.
Nem discuti, peguei e fomos debaixo de chuva pra pizzaria Angelo’s.
Chegamos ensopados, mas nos deram umas pequenas toalhas só pra quebrar o galho.
Tudo bem.
Apesar de molhados, ali não tinha nenhum vampiro interrompido nem um cão enlouquecido.
Daí tocou um telefone.
Nem dei bola, mas o Hugo falou “atende que não é o meu”.
Porém o toque não era do meu aparelho.
Tirei do bolso e gritei um fdp !!

Era o Siemens da tal Dona Dulce.

1 Canetadas:

sexta-feira, julho 21, 2006 10:11:00 PM, Blogger Maria Loverra disse...

uma vez eu tava no cinema, e ao mesmo tempo que chovia no filme, chovia dentro do cinema. FATO!

texto muito bom! adoro cronicas do estilo pastelão da vida cotidiana!


belo blog :)
voltatei sempre.

 

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