segunda-feira, junho 19, 2006

Nós e a Morte

Todos nós temos uma dificuldade de lidar com as perdas.
Especialmente com a morte que é a perda de uma pessoa amiga, parente, ou até desconhecida.
A cultura ocidental é meio capenga, ela nos ensina desde a falar nossa língua até a projetarmos veículos espaciais, passando por inúmeros nichos do conhecimento humano. Sejam eles no reino da matemática, da lingüística, da mecânica, da medicina, da psicologia e vai por aí.

Essa mesma cultura ocidental só não nos ensina o óbvio: a finitude da vida.

Daí, quando nos deparamos com a morte de alguém próximo ficamos atônitos e sem saber em que bolso enfiarmos as mãos.
Ficamos perdidinhos da silva entre o sofrer por aquela perda e o se perguntar o porquê não sofrer, já que essa mesma cultura está encharcada de cobranças, veladas ou não, de que temos de sofrer diante da morte.
Esse é um registro do inconsciente coletivo da nossa cultura.

Agora imaginem como fica a vida de alguém que trabalha tendo que lidar diretamente com a finitude da vida.
Li na edição de hoje do Diário Catarinense um depoimento de quem trabalha como coveiro, o Seu André.
Para ele, ser encarregado de enterrar os corpos acaba ajudando a enfrentar o que considera a única certeza da vida.
E diz que esse é seu ofício. Alguém tem que fazer.
Ele não se abala mais com um funeral. Já não acha mais desesperador, nem tampouco amedrontador.
É gente simples que acaba deixando sua lição de vida com o seu próprio trabalho.
E, por causa da violência em que o ser humano mergulhou, ele diz que não teme sua profissão, pois os mortos não voltam, não atacam e não roubam.
Os vivos é que preocupam a ele.

Novamente me vem à lembrança o filme Sonhos do grande Akira Kurosawa, onde há um episódio em que um funeral é festejado, pois era a morte de um ancião. E a cultura oriental tem como valor o fato de um idoso, quando morre, já ter cumprido sua etapa por aqui.

Lá eles choram as mortes de jovens justamente por entenderem não ter vivido para cumprir o seu ciclo.