sábado, dezembro 30, 2006

Hipocrisia e Saddam

O ex-presidente Saddam Hussein morreu.
Foi executada a sentença de morte por enforcamento.
Inúmeros pedidos, feitos por vários países, para que a pena capital não fosse levada a efeito sequer foram ouvidos.
Há quem creia que a violência no Iraque tende a aumentar por isso.
E há quem ache que a execução de Saddam será bem digerida.
Lembro aqui que Rudolf Hess e Slobodan Milosevic foram anulados como homens de governo de um país, julgados, condenados e presos, mas... não foram condenados à morte.
Há fatos já surradamente sabidos, tipo, Saddam não teve nada a ver com o terror de 11/09; Saddam não tinha nenhuma arma biológica de destruição em massa; três advogados dele foram misteriosamente assassinados; a Anistia Internacional apontou o erro enorme de se promover esse julgamento num Iraque sacudido por diferenças e violências sectárias.
Lembrando que Milosevic foi julgado na Corte de Aia e não na Iugoslávia.

Deixando de lado um pouco essa realidade, sobra o fato de que Saddam era um ditador sim, um golpista, governava com mão-de-ferro e que promoveu a morte de desafetos políticos, falta-nos, portanto, perguntar: "onde se esconde a nossa hipocrisia? Onde se esconde a hipocrisia dos governos?"
Os espanhóis dizimaram civilizações indígenas na América do Sul.
Os chineses promoveram cerca de 50 mil mortes na revolução maoísta.
Os governos argentino, brasileiro e chileno deram sumiço em milhares de pessoas durante suas ditaduras.
Os EUA orquestraram e estiveram por trás de todos os golpes truculentos no cone sul, sobretudo no assassinato de Allende.
O Bush tem um circo dos horrores em Guantánamo.

Ora,
se é pra caçar, julgar e condenar quem comete crimes contra a humanidade... cadê os outros?

A humanidade continua caminhando pela trilha pantanosa da sua própria hipocrisia.
E isso leva ao atraso, ao obscurantismo e à autofagia.